quarta-feira, 1 de junho de 2011

Hoje estou triste. Meu coração dói, comprimindo o peito.Sinto-me tão pequeno, tão carente. Sinto-me desamparado.Chorar, já chorei tudo o que podia. Mas há um buraco dentro de mim que teima em não fechar. E com isso me angustia.Tu sabes, Senhor, o quanto estou apaixonado. Sabes o tamanho do meu desejo em estar com quem amo. E sabes, também, do sentimento de rejeição, de pequenez, que toma conta de mim. E eu, a cada dia, peço para não mendigar afeto. Mas não consigo.São noites que passo em claro. Não sei se é imaginação ou sonho.


Quando amanhece, não sei se dormi ou se fiquei a projetar imagens em minha cabeça. Mas acordo triste. Triste por saber que meu amor não me ama. E por mais que eu tente encontrar razões, não consigo. Só fico a me perguntar: Por quê? Porque não?Já fiz de tudo. Primeiro, criei jogos de amor, de sedução. Depois, acabei me revelando. Chorando, disse tudo o que sentia. Falei do hoje, do amanha. Fiz planos para uma vida inteira juntos. E, como resposta, nada ouvi. Apenas um olhar de compreensão e um gesto como a dizer que, com o tempo, o sentimento passa. E ai me arrependi, e briguei, e me arrependi de novo, e me desculpei. E vazio de mim mesmo.Senhor! As pessoas me dizem que é assim mesmo. Que o tempo será o meu grande aliado para que esta ferida fique cicatrizada. Mas ninguém sabe me dizer quanto tempo será necessário para que, um dia, eu acorde, abra a janela, contemple a luz do céu e sinta feliz. Eu quero esquecer, Senhor! Mas me sinto frágil. É tão triste o sentimento da rejeição. Eu quero esquecer, Senhor.


Talvez, esse meu problema não seja tão grande para a humanidade. Há tantas pessoas que sofrem por coisas piores. Eu tenho tudo. Tenho saúde. Tenho juventude. Tenho a vida toda pela frente. Mas, hoje...hoje, tenho de ser honesto. O meu sentimento é de que não tenho absolutamente nada. E de que a vida não faz o menor sentido.Há momentos em que me arrependo de ter começado a amar. Mas acho que não foi decisão minha. Surgiu. Veio do nada. Veio de um olhar. De um tom de voz. De um sorriso. De um abraço. Veio de um encontro que, num instante, me fez sentir totalmente, diferente. E um frio na barriga começou a me acompanhar, e eu comecei a mudar a cada dia. Lutei para ficar mais bonito. Para cuidar dos pequenos detalhes. Para chamar a atenção, parecendo natural. Lutei tanto para que minha presença fosse agradável. Lutei tanto para que meu amor protegesse, envolvesse, acalentasse. E nada. Somente o silencio de quem, talvez, tenha outro amor.Muitas vezes, fiquei a me perguntar se não estaria usando a estratégia errada. Por vezes, desculpei a timidez. Inventei historias em minha cabeça para justificar o amor não amado. Mas agora, Senhor, quero voar em um outro horizonte. Pelo menos, hoje. Pelo menos nesse instante. Eu sei, Senhor que o infinito é infinito. E é por isso que te peço forças. Minhas asas não podem ficar congeladas pela dor do amor. É preciso que eu recupere o poder do vôo. E ir adiante. Eu já existia antes de começar a viver este amor. E tenho a certeza de que continuarei a existir depois, quando ele se for. E é por isso que quero voar.Quero voar, Senhor, e durante o meu vôo poder contemplar tudo quanto ficou esquecido durante essa minha passagem por um ninho que não me deu guarida. Não quero ter ódio. Não quero desejar o mal. Só quero seguir meu vôo. E permitir que o pássaro continue o seu vôo. Infelizmente, voaremos separados. Cada um cumprindo o seu oficio. Cada um vivendo o seu sonho. Cada um obedecendo ao seu sentimento ou, talvez, tentando controla-lo. Enfim, o vôo não acabou.Agora estou um pouco melhor, Senhor. Tenho a certeza de que me ouviste.


A dor ainda não passou. A paixão teima em me fazer companhia e soprar em meus sentimentos alguma esperança. Não quero ter esse tipo de esperança. Quero recuperar o meu vôo e ir adiante. Quem sabe, neste lindo horizonte, algum pássaro queira me fazer companhia e o que hoje eu sinto será apenas a lembrança de uma dor profunda, que não existira mais.Obrigado, Senhor! Obrigado pelo dom do amor. Pela capacidade de sofrer. Obrigado, Senhor! Obrigado por poder ser inteiro nos meus sentimentos. Antes isso do que a cessação de nunca ter amado, de nunca ter sofrido, de nunca ter existido. Este vendável é violento, mas me faz sentir vivo. E isso é bom. Já estou um pouco melhor. Pelo menos agora, estou melhor. Amanhã, quando a dor voltar, lembrarei de Ti e melhorarei um pouco mais. Até o dia em que a teia desta paixão me libertar, para talvez cair em outra. Mas quem sabe, da próxima vez, o encontro seja mais belo, e a flechada de erros atinja os dois corações. E terei forças para esperar s dor passar, e ver o amor ressurgir.

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